Um aluno do curso de Medicina da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) obteve destaque nacional vencendo a terceira edição da Olimpíada de Anatomia, promovida pela Elsevier, uma das maiores editoras de literatura médica do mundo. Com quase sete mil concorrentes, Daniel Strohschoen Bohn, de apenas 22 anos, que cursa o quarto semestre, conseguiu o primeiro lugar após final realizada no mês passado, em São Paulo.

Foram cinco fases on-line antes da grande decisão. Embora o evento seja renomado, Daniel confessa que ainda não o conhecia. Ficou sabendo por um amigo e fez a inscrição faltando poucas horas para o fechamento. "Aí eu fui indo e quando vi, tava lá", brinca. As seletivas foram sendo eliminatórias. A segunda fase, tinha mil pessoas. Depois, 150, 45 e 15, até chegar aos cinco finalistas. On-line, as questões tinham tempo curto, ele revela, e por isso era necessário um raciocínio rápido.

A realidade encontrada para fazer a prova final e presencial, contra dois adversários vindos de Minas Gerais, um de São Paulo e outra de Santa Maria, era completamente diferente de tudo o que ele conhecia. As provas realizadas em dois turnos utilizavam uma máquina de realidade virtual, na qual ele colocava óculos e utilizava dois controles. "Eu fiquei até nervoso, nunca tinha visto isso. Pensei 'já era! Vou estar em desvantagem'", revela. Nos exercícios, ele olhava a "peça", fosse ela um músculo, órgão ou vaso, pegava-a e definia o que era. Havia também perguntas clínicas. Um problema em seu equipamento fez a tensão aumentar, mas no final, quando foi ouvindo as posições finais, do quinto ao primeiro, a alegria tomou conta. O retorno a Pelotas, no entanto, precisou ser rápido. Daniel tinha uma prova na tarde seguinte.

O prêmio é uma ida à Flórida, nos Estados Unidos, onde ele participará de um curso de Anatomia Humana Clínica. O embarque ocorre dia 14. A correria para fazer o passaporte, aliás, deu mais emoção ao processo da Olimpíada. Se o vencedor não possuísse o documento no dia da premiação, ele seria passado ao segundo colocado. Por isso, Daniel precisou se apressar, e obteve o passaporte na véspera do evento. Agora, vai aproveitar a estadia no novo país para estender a viagem e, junto da namorada, aproveitar a Disney no final de ano. Além dele, seu professor de Anatomia, Carlos Alberto Alves Tavares, foi premiado com um Kindle.

Paixão pela anatomia e o futebol
Daniel é natural de Venâncio Aires. O gosto pelo futebol aliava-se a outros esportes, como rústica, natação, corda, entre outros. No entanto, uma lesão no quadril, que precisou de cirurgia, encurtou a carreira. Ao longo do processo de recuperação, aproximou-se do seu ortopedista e passou a se interessar pela anatomia humana através de leituras no site do médico. "Sempre gostei dessa área. Acho visível, palpável...", analisa. As questões da Olimpíada, aliás, eram bastante voltadas à ortopedia, ajudando ele no trabalho.

Na sequência da cirurgia, passou a dedicar-se aos estudos, com foco em ser aprovado na Universidade de Caxias do Sul (UCS). Ele conseguiu o feito, cursando dois semestres lá. Mas com o aumento na mensalidade, somado às mudanças no Fies e no financiamento próprio da universidade, precisou abandonar o curso. Foi quando conseguiu a aprovação na UFPel, no ano passado.

O gosto antigo pela anatomia faz o jovem possuir um feito surpreendente. Durante as férias em 2016, na UCS, ele escreveu um resumo com cerca de 400 páginas sobre o tema. Com a ajuda de um amigo que atuava como editor, ele já montou quatro edições do trabalho. A ideia é tornar o tema mais interessante e com curiosidades para facilitar os estudos, por achar os livros acadêmicos mais densos. Já foram mais de 200 exemplares impressos, além da versão em PDF disponibilizada para colegas. Pessoas de várias regiões do país já entraram em contato com ele para agradecer pelo material. E, após o sucesso entre conhecidos, ele pretende publicá-lo de vez. Aproveitou a oportunidade diante de uma das maiores editoras do mundo para apresentar o material. Questionado sobre o futuro, diante do sucesso acadêmico e da capacidade demonstrada, Daniel é sucinto. "Primeiro, quero me formar médico."